Eu conheci o Roberto Shinyashiki em 1998, eu auxiliei ele numa apresentação que ele fez na empresa que eu trabalhava na época. Era uma apresentação motivacional para as secretárias no Dia da Secretária.
Ele é um homem simpático e muito preparado, mas sobretudo é um ser-humano e comete suas falhas. Eu me lembro que neste dia o audit´rio estava lotado de mulheres, e na primeira fila estava sentada uma mulher que era uma sercretária muito vaidosa, mas muito gorda. Gorda mesmo. Em um dado momento, ele estava falando sobre mães, e apontou para ela: "...então aqui temos o exemplo de uma futura mamãe..", gente que mico! Ela não estava grávida! e ela disse num tom sério: "...Eu não estou grávida e nem tenho filhos..." Meu, que cara de pastel a dele! Nunca me esqueci do clima de tensão do auditório, e as pequenas explosões de risos que umas nao conseguram segurar, pois todo mundo se conhecia, e aquilo virou lenda no escritório para sempre.
Mesmo assim, eu respeito muito o trabalho dele, e tenho criticas a respeito também. Mas hoje, eu reli uma entrevista dele de 2005 na Isto é, e algumas perguntas eu coloco abaixo, mas se houver curiosidade, vocês podem ler tudo neste link.
Abaixo eu transcrevo algumas perguntas mais interessantes que estão muito alinhadas com o que eu penso e escrevo.
ISTOÉ – Quem são os heróis de verdade?Roberto Shinyashiki – Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado, viajar de primeira classe. O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso é uma loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes. E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados. Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu a pena porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa. Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa possa se orgulhar da mãe. O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes. Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros. São pessoas que sabem pedir desculpas e admitir que erraram.
ISTOÉ – Qual o resultado disso?Shinyashiki – Paranóia e depressão cada vez mais precoces. O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão aparece. A única coisa que prepara uma criança para o futuro é ela poder ser criança. Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos. Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas. Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.
ISTOÉ – Por quê?Shinyashiki – O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência. Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras. Disse que ela não parecia demonstrar interesse. Ela me respondeu estar muito interessada, mas, como falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa. Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas. Contratei na hora. Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.
ISTOÉ - Temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas?Shinyashiki – Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim e não se preocupam com o conhecimento. Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no Brasil é competência. Cuidado com os burros motivados. Há muita gente motivada fazendo besteira. Não adianta você assumir uma função para a qual não está preparado. Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha mão. Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a meus chefes, que foram sábios em não me dar um caso para o qual eu não estava preparado. Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia. O Brasil se tornou incompetente e não acordou para isso.
ISTOÉ – É comum colocar a culpa nos outros?
Shinyashiki – Sim. Há uma tendência a reclamar, dar desculpas e acusar alguém. Eu vejo as pessoas escondendo suas humanidades. Todas as empresas definem uma meta de crescimento no começo do ano. O presidente estabelece que a meta é crescer 15%, mas, se perguntar a ele em que está baseada essa expectativa, ele não vai saber responder. Ele estabelece um valor aleatoriamente, os diretores fingem que é factível e os vendedores já partem do princípio de que a meta não será cumprida e passam a buscar explicações para, no final do ano, justificar. A maioria das metas estabelecidas no Brasil não leva em conta a evolução do setor. É uma chutação total.
É sinal que eu não estou tão doida assim!
Nenhum comentário:
Postar um comentário